Não gosto do meu ceticismo e assombro diante de muitas coisas no que diz respeito ao Brasil, mas elas existem. Cada vez menos acredito. Não funciona comigo aquela conhecida frase dos mais velhos"a mim, nada mais me espanta". Pois a mim tudo ainda me choca, ou intriga,faz me rir ou chorar ou me indignar como sempre, pois,vivendo mais, conheço mais as dores humanas, nossa responsabilidade, nossa miséria,nosso dever de soliedariedade e trabalho, a necessidade de compêtencia e honradez, de exemplo e seriedade.
Seja como for, coisas bizarras acontecem neste Brasil nosso tão amado e negligenciado. Ao qual faltam, quem sabe, atenção, consciência, indignação, exigência junto dos que nos lideram ou governam, ou representam, educam ou deveriam educar, amparam ou deveriam amparar.
Outro dia escrevi sobre o tal livro com erros de português, metade aplaude, metade diz que agente não entendeu nada, ou que é isso mesmo. Autoridades fazem as mais estapafúrdias afirmações. Logo aparecem outros livros escolares com erros crassos. Não são novidades livros didáticos com erros, e nínguem dava bola. Nínguem percebia, quem percebia ficou na moita, para que se incomodar? O mundo é assim, a vida é assim , o Brasil é assim. Ai eu protesto. O Brasil é bem melhor que isso, mas tem gente que gosta que ele pareça assim, alegrinho, divertido, hospitaleiro e alienado. Afasta preocupações e cobranças, e atrai turistas.
No governo, no Senado, na Camâra, pessoas altamente suspeitas, condenadas ou não, continuam em altos cargos ou voltam a eles, e são aplaudidas de pé enquanto nós, os que tentamos ser honestos e pagamos pelo circo todo trabalhando as vezes às vezes até o anoitecer da vida e das forças, se não cuidarmos levamos multa cuspida, advertência, punição ainda que esta venha através de impostos cruéis.
Às vezes parece que nem sabemos direito quem nos governa, Quem são os líderes, os grandes cuidadores do país. Saber causaria angústia, então fechamos os olhos. Desconhecidos, ou sabidamente ruins, alguns meras promessas, estão em altíssimos postos, parte do nosso destino depende deles.
Nas pesquisas, nas quais nunca acreditei muito, a opinião pública consagra tudo isto na maior naturalidade. E eu me pergunto se realmente observamos, refletimos, concluímos algumas coisas, disso que acontece e tanto nos diz respeito,como o pão, o café, o salário, a vida. Temos uma opinião formada firme? Lutamos pela honra, pela melhor administração, pela segurança, pela decência, pela confiança que precisamos depocitar nos líderes, nos governantes, nos nossos representantes... ou nos entregamos ao fluxo das ondas, interessados muitos mais no novo celular, no iPod, no iPad, no tablet, na fofoca da vizinhança, na troca da geladeira, na TV plana, no carrinho dos sonhos, pago em oitenta prestações impossiveis? Acho que andamos otimistas demais, omissos demais, alienados demais. Devemos ser pacificose ordeiros, mas atentos. Aplaudir o erro é insensatez, valorizar o nebuloso é burrice, achar que tudo está ótimo é tiro no pé. Logo não teremos mais pé para receber a bala, e vamos atirar na cabeça, não do erro, do desmando, da improvisação ou da incompetência, mas na nossa própria cabeça pouco pensante, e eu acho,nestes dias, otimistas demais. Sofremos e torcemos pelo nosso país ou, ao primeiro trio elétrico que passa, ao primeiro show espetacular, esquecemos tudo(ser sério é tão chato...) e saímos nos requebrando, e aplaudindo, aprovando sempre, não importa o quê?
Começo a ter medo. Não o medo que temos diante de um canoi de revólver ou do barulho de um assantante na casa, não o medo de que algum mal aconteça às pessoas amadas, mas um receio difuso, sombrio, de que estejamos bailando feito alucinados ou crianças inconscientes à beira de um abismo disfarçado por nuvenzinhas coloridas chamadas alienação, para dentro do qual vão escorregando, ou despencando, os nossos conceitos de patriotismo, decência, firmeza, lucidez, liderança e uma esperança sem ufanismo tolo.
texto escrito pela escritora LYA LUFT.